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Título   Certo lugar no passado Gênero Romance
 
     
     
     
     
     
 

 

Título original: Certo lugar no passado

Romance / Drama

edição

 

Copyright© 2023 por Paulo Fuentes®

Todos os direitos reservados

 

Este livro é uma obra de ficção.

Os personagens e os diálogos foram criados a partir da imaginação do autor.

 

Autor: Paulo Fuentes

Preparo de originais: Paulo Fuentes

Revisão: Sônia Regina Sampaio

Projeto gráfico e diagramação:

Capa: Paulo Fuentes

 

Todos os direitos reservados no Brasil:

Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica Ltda.

Impressão e acabamento:

 

 Apoio Cultural:

 

 
  Lançamento de livros e/ou filmes possuem custos e o autor busca PATROCINADORES para lançar suas obras tanto para edição em formato de livros de papel ou quem sabe, para a realização de filme (s)... Caso haja interesse em relação à isso favor entrar em contato. Grato.
 

 

Esta é uma obra de ficção romanceada...
Qualquer semelhança com fatos presente, passado, futuro ou outras obras...
Pode ser mera coincidência.
(nota do autor)

 

São Paulo, 6 de setembro de 2023.

 

- Amorzinho! Porque não quer ir conosco para a praia?

- Fernanda! Vamos ser bem claros e objetivos. Eu não sou o seu amor!

- Credo! Você gosta mesmo de cortar o clima, né?

- Não estou cortando nada! Só estou sendo objetivo e sabe bem que não gosto de mentir. Você não me ama e eu não te amo, portanto, vir com isso de amorzinho não cola.

- Quem foi que disse que eu não te amo?

- Você mesma!

- Eu disse isso?

- Várias vezes!

- Não me recordo de ter dito isso para você!

- Quer que eu te mostre que disse isso várias vezes? Se quiser tenho até no aplicativo.

- Você que disse que não me ama porque está à espera de uma pessoa que nem sabe se existe.

- Sei que ela existe e não importa quando e nem onde, mas eu ainda irei de encontrá-la.

- Eu sou real e estou aqui e você está desprezando este intenso amor que sinto por você.

- Fernanda para com isso! Só saímos algumas vezes porque você precisava de atenção e carinho pelo que te aconteceu, mas sei que ainda ama o seu ex noivo.

- Você está intragável mesmo hoje, não é senhor Rubens Alaman Romagnolli?

- Me responda uma coisa Fernanda! Quando foi que eu menti para você?

- Posso pensar?

- Claro que não porque a resposta será e de que nunca menti ou te enganei e sempre você me considerou um de seus melhores amigos.

- Um dos melhores não mocinho! Sempre te considerei meu amigo sim, mas tenho outros amigos também assim como você tem e apenas para constar se quer saber tenho amigos até que muito mais bonitos e atraentes que você.

- Não quero pegar pesado, mas se tem outros mais bonitos e atraentes que eu porque então me procurou após o trauma que sofreu.

- Porque nenhum deles é você.

- Ah é! No que sou diferente deles?

- Porque você além de ser amigo é atencioso e não quis me levar para cama para me fazer esquecer o que passei.

- Ah é só por isso? Disse Rubens sorrindo.

- Não ria! Estou falando sério.

- Achei que era porque sou um cara que apesar de feio e nada atraente sou gostosão.

- Vá pra merda!

- Não foi por isso?

- Deixa de ser besta!

- Ué! Porque? Perguntou Rubens provocando.

- Como vou saber se é gostosão se nunca me deixou avançar o sinal por causa desta mulher que nem existe.

- E queria provar é?

- To falando! Você está intragável isso. Vai querer ir ou não?

- Quem irá conosco?

- Confirmados irão Alfredo, Kelly, André, Iracy, Alexandre, Solange, Paulo, Patrícia, eu e você é claro.

- Eu não disse que iria!

- Tudo bem! Esquece. Estávamos indo para ver se te alegrávamos um pouco porque você anda muito para baixo.

- Estavam indo por minha causa?

- Não! Estávamos indo porque eu queria tirar a sua virgindade. Que saco.

- Porque não disse antes?

- Estou tentando, mas como você está um porre não me deixou falar.

- E para onde iríamos?

- Para a casa dos pais da Iracy lá no Guarujá. Sairíamos na quinta-feira à tarde daqui e retornaríamos no domingo, mas já que você não quer ir ligarei para o pessoal e direi que não precisamos mais ir porque você não quer ir e te garanto que todos ficarão tristes.

- Pronto! Agora a culpa da tristeza de todos será minha é?

- É!

- O que precisarei levar se eu resolver ir?

- Só seu corpo desajeitado, feio e intragável.

- Estou falando sério!

- Eu também estou, afinal só estávamos indo para ver se tira da sua cara está aparência de cachorro que caiu da mudança.

- Estou com a cara assim é?

- Pior que está! Respondeu Fernanda sorrindo.

- Quem planejou isso de irmos para lá?

- Seu amigo André!

- Tudo bem! Para não estragar o final de semana de todos pode dizer que eu irei, mas só se você se conter e não tentar me agarrar.

- Você é chato para caramba, mas prometo me comportar.

- Então eu irei!

- Falando sério! Você é uma pessoa maravilhosa e ficamos tristes por ver a sua tristeza mesmo tendo eu aqui a sua disposição, mas só queremos o seu bem. Posso confirmar?

- Você venceu! Pode confirmar sim e agradeço a cada um de vocês por quererem o meu bem.

- É! Apesar de ser chato, intragável e um porre cada um de nós amamos você.

- Obrigado por isso, mas só quero que você entenda que eu gosto muito de você, mas sei que se rolasse algo entre nós dois nossa amizade iria acabar e jamais quero ou iria desejar te magoar porque o que sentimos um pelo outro é apenas um elo forte de amizade e sabe disso.

- Fale isso só por você, mas te entendo e espero que de repente, quem sabe, vá lá saber você encontre esta mulher inexistente e seja feliz sabendo que apenas a sua presença já me fará bem.

- Sairemos daqui que horas na quarta-feira que vem?

- Programamos de sair daqui em torno das dezoito horas. Está bem para você?

- Está sim!

- Foi combinado que todos nós nos reuniremos na rua Atlântica e partiremos de lá.

- Rua Atlântica?

- É!

- Na rua da minha casa?

- Não na rua da sua casa, mas sim da frente da sua casa para evitar que mude de ideia e não reclame porque isso foi ideia do Alfredo.

- Só podia ser ideia dele mesmo! Disse Rubens sorrindo.

- Ele te conhece bem e sabe que se não fizéssemos isso você poderia arrumar uma desculpa qualquer.

- Pois é! Acabou-se a minha tentativa de desculpas para não ir.

- Nem ouse desistir porque já mandei mensagem para o grupo dizendo que você topou ir desde que eu não o agarre lá. Falou Fernanda rindo.

- Eu irei! Pode ficar tranquila.

- Te agradeço em nome de todos nós.

 

Se despediram e desligaram o telefone e ao desligar Rubens ficou pensando na cara de cachorro que caiu da mudança e de como era bom saber que tinha amigos de verdade.

 

A semana passou rápido e na terça-feira à noite Rubens preparou tudo que levaria para passar aqueles quatro dias na bela casa que os pais de Iracy possuíam quase que à beira mar na cidade do Guarujá.

 

Já a conhecia, pois, a amizade com aqueles amigos vinham de um bom tempo e alguns deles tais quais Paulo, Alexandre e de seu irmão André vinham de longos anos e ironicamente, André mesmo sendo oito anos mais novo que seu irmão era um dos quais mais tinha amizade.

 

Talvez até fosse porque trabalhassem juntos e mesmo André sendo uma das pessoas que compunham a sua equipe na multinacional em que trabalhavam sempre fora aquele amigo que buscava nele se espelhar e sem medo de perguntar fora aprendendo e pegando experiência consigo.

 

- Tudo certo para amanhã chefe? Perguntou André no final da tarde.

- Certo para que?

- Como para que?

- O que tem de especial amanhã?

- Como o que tem?

- Não estou sabendo de nada!

- Não está sabendo o que combinamos na semana passada?

- Combinamos alguma coisa?

- Claro que sim!

- Não me lembro de ter combinado de nada com você na semana passada a não ser que iremos trabalhar no projeto que estamos para entregar à diretoria.

- Não estou entendendo nada!

- O que não está entendendo meu pupilo?

- Combinamos que iríamos passar o final de semana na casa dos pais da Iracy lá no Guarujá.

- Eu combinei isso com você? Não me recordo.

- Não está sabendo de nada? A Fernanda disse que estava tudo certo e que você havia confirmado que iria.

- Ah! A Fernanda que combinou então?

- Foi!

- E ela disse que eu havia concordado em ir passar o final de semana prolongado com vocês lá naquela bela casa dos pais da Iracy que fica lá no Guarujá?

- Disse!

- Mas você ouviu eu dizer isso da minha boca em algum momento?

- Não, mas achei que tinha concordado.

- E acreditou nas palavras da Fernanda?

- Sim!

- Acho que ela fala demais isso sim.

- Poxa! O pessoal irá ficar triste quando souber que não irá.

- Que pessoal?

- Os nossos amigos.

- De quais amigos você está se referindo?

- Além da Fernanda, o Alfredo, a Kelly, eu, a Iracy, o Alexandre, a Solange, o Paulo e a Patrícia.

- Todos eles confirmaram que irão?

- Sim e só marcamos de ir porque estamos cansados de ver a sua cara tristonha de cachorro carente.

- Cachorro carente? Achei que fosse um cachorro que caiu da mudança.

- É sério que você não sabia de nada mesmo chefe?

- Se eu não for vocês ficarão tristes?

- Com certeza! Já passou da hora de começar a viver e deixar de lado isso de encontrar esta mulher invisível.

- Caramba! Que foi que flou dela?

- Da mulher invisível e inexistente?

- É! Respondeu Rubens.

- A Fernanda que disse que já tentou de tudo com você e você sempre diz que está à espera de um milagre, ou seja, de algo que não existe.

- Bem! A espera de um milagre é nome de um filme e ela é muito bocuda por ter comentado isso.

- Porque? Ela gosta de você, não percebeu?

- Na verdade, ela estava carente e eu apenas fui seu amigo e você sabe bem disso.

- Porque não dá uns catas nela? Ela é uma moça linda e bem jeitosa.

- Ei! Olha as palavras que está falando comigo menino. Esqueceu que sou seu chefe?

- Era meu chefe até dez minutos atrás. Agora é apenas o meu querido amigo Rubens ou não se deu conta que terminamos o nosso horário de trabalho?

- Ah é verdade, mas deixa eu lhe dizer uma coisa. Também acho a Fernanda uma moça linda e como você disse bem jeitosa ou gostosa como sei que era o que quis dizer, mas somos amigos e eu não a amo e se acontecesse algo mais íntimo eu a faria infeliz e ficaria mais infeliz por saber que a magoei. Entendeu?

- É uma pena, mas entendi isso e respeito o seu ponto de vista, mas podia apenas dar uns pegas nela, não é?

- Não! Não é! Respondeu Rubens sorrindo.

- Mas mudando de assunto o pessoal ficará triste por você não ir ou não desejar estar conosco lá na casa da praia.

- E quem te disse que eu não irei?

- Você disse isso!

- Nada disso! O que eu disse foi que não combinei com você e não que disse para ela que eu não iria.

- Está querendo travar meu chip é?

- Não, mas eu irei sim, afinal tenho que tentar de alguma forma tirar esta cara de cachorro carente que caiu da mudança do meu rosto, não é?

- Pior que é cara de cachorro vira latas, cheio de carrapatos e desnutrido. Disse André rindo.

- Aí você pegou pesado, mas pelo que sei se reunirão diante da porta da minha casa amanhã, é isso mesmo?

- Isso e esta parte já é da parte do Alfredo que te conhece bem e sabia que você poderia arrumar uma desculpa para não ir.

- Sei disso! A fofoqueira me falou isso, mas está tudo certo, amanhã estarei esperando vocês na porta da minha casa para irmos tentar tirar a cara de cachorro carente de meu rosto.

- Vai que de repente você encontre a mulher invisível e inexistente lá na praia e se não encontrar porque não dar uma chance para que a Fernanda te ajude a mudar esta cara. Acho que valeria a pena.

- Menos André, menos, mas vamos ver no que dará, se bem que acho difícil encontrar uma mulher invisível na praia dando mole.

- Não sei se a invisível lhe dará mole, mas sei que uma mulher bem visível estará lá ao nosso lado querendo e muito lhe dar mole, médio e duro.

- Para de falar besteira e vamos embora e seja o que Deus quiser amanhã, mas por favor, não force tá!

- Jamais faria isso de forçar.

- Sei! Te conheço bem menino. Respondeu Rubens sorrindo.

 

Saíram da empresa e cada qual tomou seu caminho para as suas casas.

 

A noite chegou e estava quase dormindo quando Fernanda ligou perguntando se ele não iria dar mancada no dia seguinte e Rubens disse que não, porque sabia que todos queriam pegar o cachorro que caíra da mudança e cuidar dele. Desligou logo sem dar atenção para o que ela iria dizer.

 

O dia clareou cedo na manhã seguinte e vendo o jornal dizia que aquele seria um de sol escaldante, porém, para o litoral havia previsão de garoa no final da noite. Não se preocupou e nem desistiu afinal devia isso aos seus amigos e por um segundo passou por sua mente em tentar um relacionamento com Fernanda mesmo sabendo que se não desse certo a magoaria demais e isso era um risco que não queria correr.

 

Aquele foi um dia atípico e mesmo tendo muitas coisas para fazer na empresa resolveu não se empenhar tanto e deu-se ao luxo que nunca lhe permitirá ter de por volta das quinze horas parar e ficar pensando no que faria naquele fim de semana esticado e precisamente às dezessete horas encerrou seus compromissos e sem dizer nada retirou-se e foi para casa. Já havia preparado e arrumado tudo para a viagem. Apenas olharia se estava tudo em ordem e lá chegando assim o fez.

 

Morava sozinho e por sua mente passou os pensamentos de que aquilo de sonhar e esperar pela mulher amada, mas inexistente e assim pensando se deu conta de que a idade passava rápido e queria ser feliz.

 

Não era velho, pelo contrário, estava apenas com trinta e oito anos e acreditava que tinha ainda muitos anos pela frente, mas estava cansado de ficar sozinho. Sentia falta de uma pessoa na sua vida para poder compartilhar os seus dias.

 

Já tivera dois curtos relacionamentos, porém, sentia que aquelas duas jovens não era quem buscava. Na verdade, a muitos anos idealizara uma mulher que lhe desse amor, carinho, atenção, afeto, que compartilhasse seus dias com os mesmos ideais, que sonhasse junto com ele aquele sonho de viverem felizes, terem ao menos um casal de filhos, morarem na casinha com um jardim florido diante dela e seus dois relacionamentos queriam apenas ter uma vida fútil e sexo que era algo que ele gostava, mas se sentia infeliz apenas fazendo por fazer.

 

Queria mais e ainda não vira quem buscava. Enfim, daria uma chance a si mesmo de tentar encontrar a mulher de sua busca naquele final de semana. Caso não a encontrasse tentaria com Fernanda que sabia que estava lhe amando.

 

Pensava assim e nem viu que o pouco tempo que tinha de espera por seus amigos passou rápido e logo todos eles estavam ali diante da sua casa para arrastá-lo se fosse necessário. Eram cinco casais e mais Helena a irmã mais nova de Fernanda que resolvera de última hora ir junto com eles. A campainha tocou e ele foi atender sabendo que era André quem apertara a mesma.

 

- Boa tarde chefe! Já está pronto?

- Já estou sim André! Todos chegaram?

- Todos sim! Passei na casa de Fernanda, peguei-a e trouxe a irmã dela junto. Sabia que Helena irá conosco?

- Sim! A Fernanda me avisou pelo aplicativo.

- Algum problema de ela ir junto?

- Porque teria algum problema?

- Sei lá! De repente você vai resolver dar uns pegas na Fernanda e não fará por causa da irmã dela estar junto lá.

- Para de dizer besteira e vamos resolver em quantos carros iremos.

- Pensei em irmos em três carros apenas. Pode ser?

- Vocês que resolvam, afinal sou apenas um cachorro que caiu da mudança. Respondeu Rubens sorrindo.

- Tudo bem!

 

Fizeram a distribuição e devido a insistência de Rubens querer ir com o seu automóvel Alfredo, Kelly e Fernanda foram com ele e Helena acabou indo junto com André e Iracy. Ajeitaram as malas dentro dos veículos e partiram rumo à bela casa da família de Iracy no Guarujá.

 

A distância era pequena. Cerca de noventa quilômetros os separavam o que daria para fazer em uma hora e meia, porém, já na serra pegaram uma forte garoa e agregado a isso um forte congestionamento fez com que levassem mais do que o dobro de tempo, mas apesar disso finalmente chegaram ao destino e Rubens estranhou por não ver lá no local os pais de Iracy que preferiram não ir e passar o final de semana na capital estando lá apenas as três funcionárias que cuidavam da residência e que lá moravam.

 

Estacionaram os três veículos nas vagas cobertas e descarregando seus pertences cada qual se distribuiu nos dormitórios que haviam lá e mesmo Fernanda insinuando de que ela ficasse no mesmo que Rubens ele preferiu que ela ficasse com a sua irmã arrancando uma carinha de chateação nela.

 

Depois disso foram comer algo, pois estavam famintos e ficaram ainda um bom tempo jogando conversa fora antes de dormir, mas em momento algum sequer um tocou no assunto da mulher inexistente de Rubens e menos ainda sobre o cachorro desamparado e já estava avançada da hora quando se retiraram para seus respectivos dormitórios.

 

Rubens entrou no seu. Trancou a porta para evitar que Fernanda resolvesse ir lá atiça-lo e depois de se despir e ficar usando apenas uma bermuda foi até a porta de vidro que havia do outro lado da dependência e ficou ali olhando para fora vendo a chuva engrossar e mesmo tendo varanda daquele lado preferiu não sair para fora e depois de ficar um bom tempo ali pensando resolveu ir dormir constatando que ao contrário do que dissera a reportagem sobre a previsão do tempo teriam chuva no dia seguinte também.

 

Como previra a manhã clareou com a chuva ainda mais forte do que fizera de madrugada. Foi para a sala e lá encontrou apenas Alfredo e Kelly acordados e comentaram sobre talvez passassem o final de semana todo dentro de casa e riram da situação.

 

Esperaram um pouco mais, mas tão breve André levantou-se ele se encarregou de acordar a todos para tomarem café e logo todos se reuniram na cozinha onde as pessoas que lá trabalhavam haviam preparado tudo para que eles se alimentassem.

 

- Belo final de semana este heim! Comentou Alexandre.

- Pois é! Acho que iremos passar ele todo trancado aqui dentro. Falou Patrícia.

- Mas não mesmo! Pode fazer a chuva que for porque se não formos para a praia vou nadar na piscina de qualquer forma. Rebateu Helena sorrindo.

- Verdade! Já que estamos ao lado da praia e se não pudermos ir lá podemos usar a piscina. Falou Kelly.

- Nesta chuva? Perguntou Rubens.

- Porque não? Temos água sem areia, sem risco de sermos devorados por algum tubarão faminto e bem pertinho de tomarmos depois da piscina um banho quente e nos trocarmos com roupas secas e reconfortantes. Disse Paulo sorrindo.

- Tubarão? No Guarujá não tem tubarão. Falou Iracy.

- Não tem, mas vá que algum deles resolva vir para cá pescar pessoas que gostem de entrar na água da praia com esta chuva toda. Respondeu Paulo sorrindo.

- Quem vai encarar a piscina? Perguntou Helena saindo para colocar um biquíni.

 

Com a inclusão de André e Paulo todas as garotas entraram para trocarem de roupa voltando logo depois todas trajando minúsculos biquínis e os dois usando apenas sunga e foram direto para a piscina sob os olhares dos demais e Rubens não deixou de reparar na forma física de Fernanda que jamais vira antes.

 

- Que foi irmão! Mudou de ideia sobre ela agora que a viu com esta roupa? Perguntou Alfredo.

- Que roupa? Perguntou Rubens sorrindo.

- É verdade! Quase que nada de roupa né?

- Pois é! Acho que estou passado porque fazia tempo que não via jovens bem à vontade desta forma.

- Pode olhar à vontade, mas não fique muito de olho na minha namorada tá! Falou Alexandre sorrindo.

- Nem da minha heim! Completou Alfredo também sorrindo.

- Podem ficar tranquilo porque não farei isso! Respondeu Rubens rindo também.

- Mas cá para nós! A Fernanda e a irmã dela têm um corpo de fazer inveja e não sei porque você não tenta algo com ela, pois sei que ela está apaixonada por você. Disse Alfredo.

- Não quero envolver e prejudicar a amizade que tenho com ela.

- Ora! Tente ao menos dar umas pegadas e quem sabe tire este atraso que sei que está castigando a você mesmo. Comentou Paulo.

- É complicado! Imagine que eu faça isso e role cama, sexo, beijos, amassos, abraços e não dê certo. Isso irá estragar a amizade que tenho com ela e ficaremos mal.

- Então dê uns catas na irmã dela e pronto! Frisou Alfredo sorrindo.

- Pior ainda!

- Vai ficar até quando esperando a sua mulher invisível irmão? Ela poderá jamais aparecer e irá perder a chance de tirar o atraso. Disse Paulo sorrindo.

- Vou esperar até amanhã e se nada acontecer vou fazer o que estão dizendo e tentar um relacionamento com a Fernanda e seja o que Deus quiser.

- Agora sim está pensando direito! Tente e veja o que dá, afinal, ela está aqui, a disposição e sabemos que ela está apaixonada por você. Comentou Alfredo.

- Farei isso! Respondeu Rubens convidando os dois para irem para a varanda vê-las.

 

Saíram e se ajeitaram nas cadeiras à beira da piscina, porém, na área coberta e ficaram vendo os demais se divertindo dentro da água como se fosse um lindo dia de sol e prestando atenção mais detalhada neles se deu conta de que seus olhos não desviavam de Fernanda que olhava direto para ele sorrindo e convidando-o para entrar na água e tanto insistiu que ele acabou entrando um pouco e se devagar foi se soltando, mas sendo comedido nas suas atitudes e saíram de lá pouco antes da hora do almoço.

 

Finalmente saíram da piscina e cada qual foi para onde estavam hospedados e lá, depois de tomarem banho e se trocarem voltaram para a sala e depois foram almoçar. Olhando para fora viam que a chuva aumentava cada vez mais e o que restou para eles fazerem foi ficarem trancados dentro da residência o restante da tarde até a noite.

 

- Vai continuar esperando a sua musa inexistente querido? Perguntou Fernanda.

- Pensando sobre isso!

- Pensando o que, posso saber?

- Sobre o que acabou de dizer!

- Na musa inexistente?

- É!

- Hum! É mesmo?

- É sim!

- Tem medo de tentar algo comigo e se não der certo me deixar magoada, acabada, abandonada, deprimida, desfacelada, quebrada, morta por dentro?

- Você disse tudo! Isso mesmo. Esqueceu que te conheci assim?

- Não e lhe sou grata por ter me ajudado a esquecer aquele infeliz.

- Pois é! Não quero que se machuque outra vez.

- Não pense! Apenas faça e pronto. Vou correr o risco e se não der certo continuaremos sendo amigos, não é?

- Aí que está! Se tentarmos, correndo o risco e não dando certo sei que tudo mudará.

- Caramba! Como você e chato. Eu que estou querendo, portanto, não pense, apenas haja e me tome para você.

- Está abusadinha heim! Falou Rubens sorrindo.

- Não viu nada ainda! Tente e vamos ver o que vai dar.

- Posso te pedir um favor de um amigo para uma amiga?

- Peça!

- Me dê até amanhã e se nada acontecer prometo para você que tentarei um relacionamento com você. Pode ser?

- Tudo bem, mas duvido que a sua musa irá aparecer aqui nesta casa de madrugada debaixo desta chuva toda, mas tudo bem. Se nada acontecer vou te atacar amanhã logo cedo. Respondeu Fernanda.

- Obrigado! Você é uma pessoa maravilhosa.

- Claro que sou e só você que não viu isso ainda! Disse Fernanda sorrindo.

- Vamos dormir então?

- No meu quarto ou no seu?

- Eu disse irmos dormir, mas não juntos ainda.

- Cara mais chato, mas tem até amanhã então e vou torcer para que ninguém bata aí na porta de madrugada. Boa noite! Disse Fernanda se despedindo e lhe dando um selinho.

 

Todos se retiraram e Rubens ficou ali parado sozinho na sala olhando para aquela forte chuva que estava caindo e pensando nas palavras de Fernanda sobre alguém bater na porta de madrugada debaixo daquela chuva toda e acabou sorrindo apenas por supor aquela chance em um bilhão de alternativas.

 

Ficou ali na porta de vidro da sala olhando para fora e a chuva não parava de forma alguma. Resolveu ir se deitar e até deitou, mas depois de virar de um lado para o outro na cama viu que não iria conseguir dormir. Ligou a TV, mas nada encontrou que distraísse sua atenção apesar das centenas de canais que havia ali na TV a cabo.

 

Resolveu se levantar e foi até a porta que divisava com o pátio externo onde ficava a piscina e viu que a chuva estava diminuindo e a tempestade logo se transformou em garoa e a garoa finalmente como que por milagre parou. Resolveu sair.

 

Trocou de roupa. Colocou uma camiseta e uma bermuda. Sentiu-se bem e olhando para o celular viu que não era nem onze da noite ainda. Saiu para a varanda e olhou para o céu. A chuva milagrosamente parara de vez. Voltou para dentro do quarto, fechou a porta de vidro e logo depois foi para a sala e pegando uma chave reserva do portão saiu a pé. Ia caminhar um pouco à beira mar. Pisar na areia e pensar bem no que estava para fazer com Fernanda.

 

Abriu o portão, saiu e o fechou. Estava a uma quadra da avenida marechal Deodoro da Fonseca. Sequer viu qualquer pessoa na rua, nem na avenida e tirando o tênis caminhou para a areia da praia que estava completamente vazia.

  

Foi até onde a água do mar chegava e resolveu caminhar pisando dentro dela e sorriu ao se lembrar do tubarão chegando até ali. Olhou de um lado e depois para o outro e não havia nada e nem ninguém. Olhou para o mar que ironicamente estava calmo mesmo depois daquela imensa tempestade que caíra até pouco tempo atrás.

 

Caminhou um pouco e percebeu que dava para acessar a ilha da Pompeba e sem saber porque, como se uma força poderosa o fizesse ir até ela foi caminhando e nem se importou de que a água cobriu sua perna passando do joelho chegando depois até sua cintura e alcançou as pedras da ilha e vestiu o tênis novamente.

 

Sem saber porque caminhou pela extensão da ilha e foi até a ponta da mesma e lá sentou-se sobre uma rocha e ficou admirando o mar aberto e pensando que logo cedo iria desistir de seu sonho com a mulher inexistente e se entregar ao relacionamento com Fernanda e tentar ser feliz.

 

Não soube precisar quanto tempo ficou ali, mas assim que percebeu que a maré começava a subir resolveu ir embora. Levantou-se e se virou para voltar quando viu algo brilhando sobressaindo-se das rochas que compunham aquele pequeno paraíso. Abaixou-se e viu que era uma garrafa e tateando-a constatou que ela estava vedada com uma rolha e parecia que dentro dela havia algo ou o tipo de um papel.

 

Não abriu a garrafa, pois sabia que se demorasse muito ali a maré iria subir e seria impossível ele voltar caminhando. Desceu das pedras e como imaginava a água já havia subido mais e chegava naquele momento até o seu peito. Caminhou com certa dificuldade, mas logo estava na areia e olhou com curiosidade para aquela garrafa que parecia ter muitos anos. Caminhou mais e finalmente chegou na areia e foi em direção à avenida e lá, finalmente sob a luz de um poste constatou que de fato era um papel dentro daquela garrafa que mais parecia ter sido de alguma bebida, porém, de muitos anos atrás.

 

Estava ensopado por conta da água do mar e sem se incomodar sentou-se em um dos bancos da beira mar e tentou tirar a rolha que a vedava, porém, sem conseguir fazer. Ergueu então a garrafa em direção à luz artificial e viu que o papel dentro dela parecia ser uma carta ou coisa do tipo e ficou ainda mais curioso. Olhou para a praia onde se abria o imenso oceano Atlântico e riu pensando que saíra para distrair a cabeça e pensar sobre o que faria com Fernanda logo pela manhã e ao contrário de encontrar a mulher invisível encontrara uma garrafa de vidro quem sabe com o endereço dela.

 

Assim pensando sorriu e resolveu voltar para a casa onde estava hospedado. Caminhou um pouco e mal chegara no meio da quadra a chuva voltou a cair e a tempestade voltou a desabar assim que cruzou o portão da residência.

 

Entrou rapidamente e foi até seu automóvel e acessou a caixa de ferramentas que tinha no porta malas dele e pegando um alicate que ali havia com cuidado foi soltando a rolha prensada dentro da boca da garrafa como se tivesse sido colocada ali com alguma máquina de alta precisão. Finalmente conseguiu soltar a rolha e retirou o papel de dentro da mesma e constatou que de fato era uma carta escrita com uma delicada letra feminina. Curioso começou a lê-la.

 

“Não sei onde você está e nem sei porque você desapareceu me deixando aqui sozinha depois de nossas juras de amor. Sabia que te amava quando aqui estava, mas descobri que te amo muito mais depois que sumiu de meu olhar. Te amo e desesperadamente eu espero pelo seu retorno e sem saber se algum dia voltará para mim resolvi escrever esta carta, coloca-la dentro de uma garrafa e jogá-la ao mar, pois quem sabe, se ela te encontrar quem sabe volte e me faça ser feliz ao lado dos dois filhos que teremos morando na casinha que sonhamos juntos com um jardim florido diante dela. Te amo muito e temo morrer antes que volte para juntos vivermos nosso grande amor. Onde você está amor da minha vida? Volte que estou te esperando como esperamos o dia amanhecer para vermos o sol raiar no céu. Volte porque preciso de você. Da sua amada que jamais lhe esquecerá. Larissa. São precisamente 2:27 da madrugada do dia 13/07/1723”.

 

Rubens leu e releu aquela carta várias vezes e nela havia o nome da mulher que a escrevera. Larissa era seu nome e o curioso era que a data inserida na carta era do dia treze de outubro, porém, o ano é que era inimaginável. Era no ano de mil setecentos e vinte e três a exatos trezentos anos no passado.

 

- Que loucura é esta? Devo estar ficando maluco. Encontrei uma garrafa com uma carta dentro de uma pessoa chamada Larissa que curiosamente é da mesma data em que estava, porém a trezentos anos no passado. Devo estar enlouquecendo. Pensou Rubens atônito.

 

Não tinha noção da hora que era aquele momento, mas entrou e mesmo sabendo que ia molhar toda o caminho que faria praticamente correu para saber que horas eram e ficou ainda mais assombrado porque o imenso relógio cuco que havia na sala marcava exatamente duas e vinte e três horas da madrugada.

 

Sentiu vontade de acordar todo mundo para mostrar aquele absurdo de ocorrido, porém, correu para seu quarto, pegou seu celular que havia deixado lá e voltou para a sala e ficando diante do relógio cuco fez uma selfie e curiosamente assim que viu a foto no celular reparou que parecia que o relógio não andara sequer um segundo, pois a sua foto ao lado do relógio estava exatamente no mesmo horário da carta recebida dentro de uma garrafa.

 

Voltou para seu quarto e foi tomar um banho morno e tentou dormir depois de estar asseado, seco e vestido de novo, mas não conseguiu. Pegou a carta. Leu e releu-a várias vezes novamente. Não via a hora dos demais acordarem e por um instante pensou em Fernanda e de como ela ficaria decepcionada e chateada com o que saberia quando o ouvisse. Aguardou e parecia que as horas não passavam de forma alguma até que finalmente ouviu vozes e se levantou.

 

Trocou-se e olhando pela porta de vidro constatou que a chuva caía implacavelmente lá fora. Saiu do quarto e foi para a sala e viu que quem havia acordado eram as moças que trabalhavam na casa e uma delas estava enxugando a molhadeira que ele causara e por sorte o piso de toda a residência era em piso frio.

 

- Me perdoe! Eu resolvi sair ontem de noite e quando voltei estava com tanta pressa que nem vi o que fiz.

- O senhor saiu de noite com aquela chuva? Perguntou Janice.

- Me dê o rodo e o pano que vou enxugar!

- Mas nunca! Ganho para isso.

- Não mesmo! Eu sujei, portanto, tenho que limpar.

- Se o senhor limpar eu perco meu emprego. Respondeu Janice sorrindo.

- Mas faço questão de limpar!

- Nem ouse porque senão eu ficarei chateada. Vá tomar café senhor.

- Alguém já acordou?

- Ninguém ainda.

- Tudo bem! Obrigado e mais uma vez me perdoe por ter molhado tudo por aqui.

- Fique tranquilo. Respondeu Janice saindo para limpar a varanda.

 

Rubens estava ansioso para mostrar a todos a garrafa e a carta que encontrara e que carregava nas suas mãos com carinho e para conter a sua impaciência foi até o relógio que tirara a foto diante dele de madrugada e nele marcava seis e vinte e quatro da manhã.

 

Voltou e foi até a porta envidraçada de entrada e lá fora a chuva não cessava e pelo que sentia não ia passar rápido e com isso, só haveria duas alternativas, ou ficavam trancados dentro da casa ou voltavam para a capital e isso resolveriam assim que todos estivessem acordados.

 

Demorou o que pareceu uma eternidade, mas seus amigos foram chegando e ele após cumprimenta-los aguardou que todos estivessem presentes para tocar no assunto, porém, aguardou tomarem café e chamou-os na sala para dizer tudo o que acontecera naquela noite anormal.

 

- Não creio que aconteceu isso tudo! Comentou Alfredo.

- Foi sim e a prova está aqui em minhas mãos.

- Uma garrafa com uma carta dentro dela, é isso mesmo que está dizendo? Perguntou André.

- É! Exatamente isso.

- Você saiu mesmo na chuva esta noite? Perguntou Fernanda indignada.

- Saí!

- Não creio que fez isso comigo?

- Não fiz nada Fernanda! Apenas sai para refletir.

- Mas saiu debaixo de chuva? Tornou a comentar Fernanda.

- Saí na hora que parou a chuva.

- Mas a chuva parou? Pelo que vejo ela está ainda mais forte que estava ontem de noite. Disse Paulo.

- Pode parecer inacreditável, mas a prova disso está aqui.

- Parece uma garrafa de rum daquelas dos velhos piratas lá do Caribe. Comentou Alexandre.

- O papel da carta também é bem antigo pelo que estou vendo! Falou Kelly.

- Iracy! Me diga uma coisa, este relógio lá da sala está com a sua família a muito tempo?

- Não sei dizer, porque ela já estava em casa antes de eu nascer. Porque?

- Porque ele é bem antigo e isso dá para se ver. Hiper conservado, mas bem antigo.

- Acho que ele deve estar na família a muitos anos porque tinha uma foto de meu avô ainda novinho ao lado dele.

- Seus pais saberiam dizer de quando ele seria?

- A data não sei, mas garanto que meu pai sabe bem mais que eu, porque?

 

Rubens detalhou ainda mais o que acontecera e também o como e onde encontrara aquela garrafa deixando todos cismados, porque ir a pé até a ilha da Pompeba era quase que impossível ainda mais na chuva que estava caindo, mas mesmo em tese duvidando todos entendiam que não era apenas um sonho e sim realidade. Havia uma garrafa e uma carta para provar isso e a mesma hora assinalada no velho relógio cuco.

 

Fernanda vendo a empolgação de Rubens ficava cada vez mais chateada. Ele nunca dissera que o amava e sabia que ele tinha carinho por ela, mas não amor, porém, com o decorrer do tempo que o conhecera ele não fizera apenas ela esquecer seu ex e sim, mesmo ele sempre dizendo que era seu amigo, ela acabara se apaixonando por aquele homem que sonhava com uma mulher sabe-se lá de onde.

 

Rubens estava ainda mais ansioso e queria voltar para a capital para conversar com os pais de Iracy, pois queria a todo custo saber mais sobre aquele velho relógio e torcia para que ele não fosse apenas uma herança de família, pois se não fosse tentaria compra-lo e tentar ver se ele tinha algo a ver com a mulher misteriosa.

 

- Podemos voltar para São Paulo? Perguntou de repente.

- Voltar! Exclamaram todos.

- É! Pelo que sabemos a chuva não irá parar e se ficarmos aqui será para curtirmos apenas a casa, iremos no máximo para dentro da piscina.

- É! Pode até ser, mas você foi até a praia, não foi? Perguntou Fernanda bem contrariada.

- Fui porque parou de chover e tinha que pensar.

- Pensar no que? Tornou a perguntar Fernanda agora irritada.

- No que você me disse ontem à noite.

- O que foi que eu disse?

- Sobre eu acreditar que alguém bateria na porta aqui debaixo daquela chuva.

- Alguém bateu na porta de madrugada por acaso?

- Não, mas como parou de chover saí para refletir melhor se deveria ou não acabar te magoando.

- Não deve ter pensado direito, porque me deixou magoada. Respondeu Fernanda se levantando e saindo da sala chorando.

- Eu temia por isso e juro que não queria isso!

- Sabemos bem que você queria poupá-la e ela também sabia disso, mas estar apaixonada por alguém e receber uma notícia desta que deu a magoou, mas sei que irá passar e ela também sabe porque a chance de você encontrar com uma mulher que mandou uma cara a trezentos anos atrás é ou seria mais impossível do que pegar uma estrela no céu. Disse filosoficamente Helena.

- Tomara que você esteja certa e ela me perdoe por isso. Falou Rubens entristecido.

- Ela não irá te perdoar, mas esperará você desistir deste sonho impossível. Falou Helena.

- Bem! O que faremos, ficaremos ou voltaremos para a capital?

- Ficaremos e você também! Respondeu André tomando à frente de todos.

- Tudo bem! Ficaremos, mas tenho pressa em falar com os pais de Iracy. Falou Rubens.

 

Ficaram e Fernanda sequer se aproximou de Rubens nos outros dois dias e na volta não quis voltar no mesmo carro que ele. No fundo ela sabia que ele iria desistir daquele sonho impossível, pois por mais que parecesse fácil era algo que jamais aconteceria dele encontrar a mulher da carta e ela esperaria o que fosse necessário e no domingo, logo após almoçarem retornaram para a capital e Rubens fez questão de ir direto até a casa de Iracy tentar saber mais dos pais dela com relação ao velho relógio.

 

Saíram do litoral e a chuva os acompanhou até metade do caminho, mas curiosamente ao chegarem no platô em São Bernardo do Campo nem uma gota de água caíra naqueles quatro dias e sem querer pensar todos eles foram direto até onde Iracy morava com seus país.

 

- Papai! Você conhece o Rubens, não é?

- Claro que conheço! É o jovem da mulher invisível, não é?

- Eu mesmo!

- Já desistiu de encontrá-la?

- De forma alguma e tenho uma pista sobre ela.

- Não creio que sabe onde ela esteja! Comentou Carla, mãe de Iracy.

- Quase isso! Respondeu Rubens contando tudo o que acontecera.

- Estou impressionado! Disse Jurandir.

- Vim aqui e lhe peço desculpas por isso, mas queria saber mais sobre o relógio cuco que tem lá na casa do Guarujá.

- O que tem ele?

- O senhor viu direito a carta?

- Vi sim, mas não entendi!

- O senhor viu a foto que tirei junto do seu relógio?

- Vi, mas continuo não entendendo.

- O senhor viu a data na carta?

- Vi sim! Datava de treze de outubro.

- Que mais?

- Olhe de novo por favor.

 

Entregou a carta novamente para Jurandir e depois mostrou a foto do relógio em seu celular e foi aí que os pais de Iracy entenderam e ficaram de queixo caído.

 

- A carta marca o mesmo dia a trezentos anos atrás e o velho cuco marca o mesmo horário mencionado na mensagem. Falou Jurandir pasmo.

- Isso mesmo! Dia, mês e hora, trezentos anos depois. Sabe qual é o tempo que tem este relógio?

- Não sei lhe dizer isso.

- Eu dei uma pesquisada e pelo que li na internet o primeiro relógio cuco foi fabricado por Franz Anton Ketterer, um relojoeiro da cidade Shoenwald na Floresta Negra, na Alemanha e segundo consta ele teria sido o primeiro a fabricar este tipo de relógio.

- Não sabia disso, o que tem isso a ver com a moça?

- Também não sei que ligação poderia ter, mas veja bem, eu fui até a praia em uma noite em que a tempestade deu uma pequena trégua e de lá algo me empurrou em direção à ilha da Pompeba onde atravessei o espaço andando, lá encontrei a garrafa com a carta, voltei, a chuva voltou a cair, peguei um alicate dentro do porta malas do meu carro, abri, li a carta e entrando o relógio marcava a mesma hora destacada na carta. Tem que ter uma ligação entre a carta e o relógio, não acha?

- É! Tem razão. Deve haver alguma ligação mesmo, mas o que quer me dizer com isso?

- Primeiro quero saber se este relógio é herança de família.

- Não! Ele não é herança a não ser que me foi deixado de meu pai que o guardava em um canto no depósito e sei que ele foi recebido de presente de um amigo de meu avô que queria se livrar dele por estar ocupando espaço.

- Tem algum apego por ele?

- Eu não, tanto que tiramos aquele relógio velho e barulhento daqui e levamos lá para a casa na praia e mais, se dependesse da minha esposa teríamos jogado ele no lixo.

- Que bom que não jogou!

- É! Acho que ele estava lhe esperando. Falou Carla emocionadamente.

- Quanto quer por ele?

- Você quer comprar o velho relógio que íamos jogar fora? Perguntou Jurandir.

- Quero!

- Hum! Tem certeza que quer comprar aquele barulhento que para nós não vale nada?

- Tenho sim!

- Por quanto acha que deveríamos vender o velho relógio querida? Perguntou Jurandir para Carla.

- Que tal um dólar?

- Acho que está maluca pedindo isso?

- Porque? Para nós ele é apenas uma porcaria velha.

- Porque eu pensei em dar para ele de graça, mas terá que ir buscar lá no Guarujá, porque não quero que coloquem a mão na velharia.

- Eu estou falando sério! Quero compra-lo mesmo. Me diga quanto, por favor.

- Bem! Eu ia lhe dar de graça e Carla sugeriu um dólar, portanto, se insiste em compra-lo quero um dólar nele, mas ressalto que terá que ir busca-lo.

- Está falando sério?

- Claro que sim e se ele não foi para o lixo até hoje apesar de que Carla tenha insistido para isso e eu tê-lo levado lá para a praia deve ter sido porque você algum dia iria encontra-lo e ele lhe ser útil para não sei o que, mas o dólar tem que ser dado agora e não depois. Falou Jurandir sorrindo.

- Pode ser dez dólares?

- Não! Tem que ser um dólar e nada mais que isso.

- Eu tenho cinqüenta dólares, mas em nota de dez dólares cada uma das notas.

- Então não temos negócio! Ou é um dólar ou não tem negócio.

- Então não poderei compra-lo se quer apenas um dólar agora.

- Então sinto muito! Respondeu Jurandir doido de vontade de sorrir.

- Espere um momento! Quer apenas um dólar por aquele belo relógio? Perguntou Fernanda.

- Sim! Se tiver um dólar aí ele será seu.

- Eu tenho sim uma nota de um dólar! Faça o recibo para mim por favor, que irei compra-lo. Disse Fernanda de cara fechada.

- Recibo para um relógio velho? Perguntou Jurandir.

- Sim! Por favor, faça o recibo que aqui está a nota de um dólar.

- Mas não precisa! Pode ir lá retirá-lo. Falou Carla entrando na conversa.

- Por favor, pode me fazer o recibo?

- Tudo bem! Farei o que me pede. Respondeu Jurandir sério fazendo e entregando.

- Posso receber o dólar Fernanda? Perguntou Carla entendendo Jurandir.

- Claro que pode! Aqui está.

 

Fernanda pegou o recibo e pediu uma folha de papel e virando de lado começou a escrever e perguntou o nome completo de Rubens e o número de seus documentos. Este lhe passou não entendendo nada, aliás ninguém entendeu nada e tinham certeza de que ela iria comprar para dar fim no relógio, mas a surpresa veio em seguida.

 

- Aqui está a doação do relógio para você Rubens e espero que isso prove o sentimento e a gratidão que tenho por ti, mas saiba que, eu ainda não desisti de ti, entendeu?

- Como está me doando?

- Eu conversei discretamente com Carla sobre o seu interesse no relógio e eles iriam te dar o mesmo de presente, mas como sabiam do seu caráter acreditavam que não iria aceitar, daí, resolvemos ajudar na sua busca, porque mesmo eu te amando, jamais poderia impedir que ao menos tentasse encontrar esta mulher com a qual sempre sonhou, mas já aviso que, eu apesar de saber que é uma loucura isso, estarei aqui a sua espera se não der certo a sua tentativa. Fui clara?

- Nem sei o  que dizer para vocês, mas muito obrigado por isso e saiba que nunca iria querer magoá-la.

- Sei que não, mas agora providencie tudo e vá buscar o presente lá no Guarujá amanhã sem falta. Respondeu Fernanda com lágrimas nos olhos.

- Amanhã! Que nada, vou busca-lo agora mesmo.

- E vai transportá-lo de que forma? Perguntou Jurandir sorrindo.

- Só baixar os bancos de minha SUV que ele caberá lá perfeitamente.

- Posso ir com você até lá? Perguntou Fernanda.

- Você não! Vamos nós todos lá para baixo de novo buscar está peça de museu que devia estar esperando por ele a vários anos. Disse Alfredo convencendo a todos a irem juntos.

 

Não esperaram mais tempo e desta vez Jurandir e Carla fizeram questão de irem juntos, afinal queriam ver se cara a cara o novo proprietário do velho relógio alguma outra coisa se revelaria e saindo voltaram para o litoral.

 

Os veículos saíram e Rubens nem se deu conta de que Jurandir colocara rapidamente uma enorme caixa e cordas dentro da caminhoneta para depois acompanha-los. Tinha pressa. Queria saber sobre aquela coincidência que surgira após ter encontrado aquela garrafa com uma carta dentro.

 

Ruas e avenidas foram cruzadas e depois de um tempo limpo como a alma de uma criança recém nascida chegaram à rodovia dos Imigrantes que inexplicavelmente estava praticamente vazia. Os quatro veículos se colocaram em fila estando Rubens acompanhado de Fernanda no primeiro e por último Jurandir acompanhado de Carla e ao chegarem no meio da serra o tempo fechou e a forte chuva voltou a cair, mas isso não incomodou de forma alguma o desejo de chegarem do local onde estava o velho relógio aguardando-os.

 

Chegaram ao pé da serra e a chuva não dava descanso. Pelo contrário parecia que o dilúvio havia chegado por ali. Pegaram a BR-101, passaram por Cubatão e depois acessaram a rodovia Cônego Domênico, a Piaçaguera-Guarujá, cruzaram a Avenida Leomil e finalmente chegaram à cidade de seus destinos. Rubens estacionou o veículo diante da propriedade e esperou que Jurandir acionasse o controle remoto do portão e todos entraram e estacionaram os veículos que conduziam. Rubens estava com pressa, mas jamais entraria na casa alheia sem autorização do proprietário e este entrando chamou-os todos para dentro.

 

Lá fora a chuva continuava castigando o solo, mas Rubens só tinha olhos para o velho relógio que estava diante de si e que agora era seu por uma nota de um dólar. Parou e ficou olhando-o tentando ver algo que não estava visível. Todos ficaram em silencio respeitando a sua ansiedade. Abriu a bela porta de vidro que havia na frente dele e imaginou que ela poderia ser uma porta para transportá-lo para o passado, mas nada tinha a ver uma coisa com outra.

 

- Ele é meu mesmo? Perguntou agoniado.

- Tem com você o recibo e a doação que diz que é! Respondeu Fernanda.

- Posso levar ele para a minha casa?

- Por mim pode sem problemas! Respondeu Jurandir.

- Nem sei o que dizer!

- Não diga nada! Vamos ajuda-lo a carrega-lo, vamos colocar ele na caminhoneta dentro da caixa que eu trouxe, embalá-lo com lona para que não molhe, amarrá-lo e entrega-lo lá na sua casa na sua presença, mas vai prometer que irá nos contar o que descobrir dele e esta é a única condição que lhe peço. Disse Jurandir.

- Prometo que farei isso! Podemos embalá-lo agora? Tenho pressa em vê-lo lá em casa.

- Por mim sem problema algum! Vocês podem ajudar a embalá-lo? Falou Jurandir.

 

Todos se prontificaram a ajudar a embalar aquele velho e enorme relógio cuco o qual poderia ter uma explicação para as interrogações que o ligavam àquela garrafa e a carta guardada por trezentos anos dentro dela.

 

Devidamente embalado com muito cuidado o ajustaram à caminhoneta, protegeram a embalagem com uma lona e depois com mais cuidado ainda amarraram a valiosa carga deixando-a pronta para viajar os quase cem quilômetros de volta para a capital onde ele permaneceria aos cuidados do novo proprietário.

 

- Bem! A chuva está muito forte e nem vou sugerir e sim pedir que comamos alguma coisa para esperar a água baixar um pouco. Pediu Carla.

- Concordamos! Responderam todos.