Título original:
Certo lugar no passado
Romance / Drama
1ª
edição
Copyright© 2023 por Paulo Fuentes®
Todos os direitos reservados
Este livro é uma obra de ficção.
Os personagens e os diálogos foram criados a
partir da imaginação do autor.
Autor: Paulo Fuentes
Preparo de originais: Paulo Fuentes
Revisão: Sônia Regina Sampaio
Projeto gráfico e diagramação:
Capa: Paulo Fuentes
Todos os direitos reservados no Brasil:
Paulo Fuentes e El Baron Editoração Gráfica
Ltda.

Impressão e acabamento:

Apoio Cultural:

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Esta é uma obra
de ficção romanceada...
Qualquer semelhança com fatos presente, passado, futuro
ou outras obras...
Pode ser mera coincidência.
(nota do autor)
)
São Paulo, 6 de setembro de 2023.
- Amorzinho! Porque não quer ir conosco para a
praia?
- Fernanda! Vamos ser bem claros e objetivos. Eu
não sou o seu amor!
- Credo! Você gosta mesmo de cortar o clima, né?
- Não estou cortando nada! Só estou sendo
objetivo e sabe bem que não gosto de mentir.
Você não me ama e eu não te amo, portanto, vir
com isso de amorzinho não cola.
- Quem foi que disse que eu não te amo?
- Você mesma!
- Eu disse isso?
- Várias vezes!
- Não me recordo de ter dito isso para você!
- Quer que eu te mostre que disse isso várias
vezes? Se quiser tenho até no aplicativo.
- Você que disse que não me ama porque está à
espera de uma pessoa que nem sabe se existe.
- Sei que ela existe e não importa quando e nem
onde, mas eu ainda irei de encontrá-la.
- Eu sou real e estou aqui e você está
desprezando este intenso amor que sinto por
você.
- Fernanda para com isso! Só saímos algumas
vezes porque você precisava de atenção e carinho
pelo que te aconteceu, mas sei que ainda ama o
seu ex noivo.
- Você está intragável mesmo hoje, não é senhor
Rubens Alaman Romagnolli?
- Me responda uma coisa Fernanda! Quando foi que
eu menti para você?
- Posso pensar?
- Claro que não porque a resposta será e de que
nunca menti ou te enganei e sempre você me
considerou um de seus melhores amigos.
- Um dos melhores não mocinho! Sempre te
considerei meu amigo sim, mas tenho outros
amigos também assim como você tem e apenas para
constar se quer saber tenho amigos até que muito
mais bonitos e atraentes que você.
- Não quero pegar pesado, mas se tem outros mais
bonitos e atraentes que eu porque então me
procurou após o trauma que sofreu.
- Porque nenhum deles é você.
- Ah é! No que sou diferente deles?
- Porque você além de ser amigo é atencioso e
não quis me levar para cama para me fazer
esquecer o que passei.
- Ah é só por isso? Disse Rubens sorrindo.
- Não ria! Estou falando sério.
- Achei que era porque sou um cara que apesar de
feio e nada atraente sou gostosão.
- Vá pra merda!
- Não foi por isso?
- Deixa de ser besta!
- Ué! Porque? Perguntou Rubens provocando.
- Como vou saber se é gostosão se nunca me
deixou avançar o sinal por causa desta mulher
que nem existe.
- E queria provar é?
- To falando! Você está intragável isso. Vai
querer ir ou não?
- Quem irá conosco?
- Confirmados irão
Alfredo, Kelly,
André,
Iracy, Alexandre, Solange,
Paulo,
Patrícia, eu e você é claro.
- Eu não disse que iria!
- Tudo bem! Esquece. Estávamos indo para ver se
te alegrávamos um pouco porque você anda muito
para baixo.
- Estavam indo por minha causa?
- Não! Estávamos indo porque eu queria tirar a
sua virgindade. Que saco.
- Porque não disse antes?
- Estou tentando, mas como você está um porre
não me deixou falar.
- E para onde iríamos?
- Para a casa dos pais da Iracy lá no Guarujá.
Sairíamos na quinta-feira à tarde daqui e
retornaríamos no domingo, mas já que você não
quer ir ligarei para o pessoal e direi que não
precisamos mais ir porque você não quer ir e te
garanto que todos ficarão tristes.
- Pronto! Agora a culpa da tristeza de todos
será minha é?
- É!
- O que precisarei levar se eu resolver ir?
- Só seu corpo desajeitado, feio e intragável.
- Estou falando sério!
- Eu também estou, afinal só estávamos indo para
ver se tira da sua cara está aparência de
cachorro que caiu da mudança.
- Estou com a cara assim é?
- Pior que está! Respondeu Fernanda sorrindo.
- Quem planejou isso de irmos para lá?
- Seu amigo André!
- Tudo bem! Para não estragar o final de semana
de todos pode dizer que eu irei, mas só se você
se conter e não tentar me agarrar.
- Você é chato para caramba, mas prometo me
comportar.
- Então eu irei!
- Falando sério! Você é uma pessoa maravilhosa e
ficamos tristes por ver a sua tristeza mesmo
tendo eu aqui a sua disposição, mas só queremos
o seu bem. Posso confirmar?
- Você venceu! Pode confirmar sim e agradeço a
cada um de vocês por quererem o meu bem.
- É! Apesar de ser chato, intragável e um porre
cada um de nós amamos você.
- Obrigado por isso, mas só quero que você
entenda que eu gosto muito de você, mas sei que
se rolasse algo entre nós dois nossa amizade
iria acabar e jamais quero ou iria desejar te
magoar porque o que sentimos um pelo outro é
apenas um elo forte de amizade e sabe disso.
- Fale isso só por você, mas te entendo e espero
que de repente, quem sabe, vá lá saber você
encontre esta mulher inexistente e seja feliz
sabendo que apenas a sua presença já me fará
bem.
- Sairemos daqui que horas na quarta-feira que
vem?
- Programamos de sair daqui em torno das dezoito
horas. Está bem para você?
- Está sim!
- Foi combinado que todos nós nos reuniremos na
rua Atlântica e partiremos de lá.
- Rua Atlântica?
- É!
- Na rua da minha casa?
- Não na rua da sua casa, mas sim da frente da
sua casa para evitar que mude de ideia e não
reclame porque isso foi ideia do Alfredo.
- Só podia ser ideia dele mesmo! Disse Rubens
sorrindo.
- Ele te conhece bem e sabe que se não
fizéssemos isso você poderia arrumar uma
desculpa qualquer.
- Pois é! Acabou-se a minha tentativa de
desculpas para não ir.
- Nem ouse desistir porque já mandei mensagem
para o grupo dizendo que você topou ir desde que
eu não o agarre lá. Falou Fernanda rindo.
- Eu irei! Pode ficar tranquila.
- Te agradeço em nome de todos nós.
Se despediram e desligaram o telefone e ao
desligar Rubens ficou pensando na cara de
cachorro que caiu da mudança e de como era bom
saber que tinha amigos de verdade.
)
A semana passou rápido e na terça-feira à noite
Rubens preparou tudo que levaria para passar
aqueles quatro dias na bela casa que os pais de
Iracy possuíam quase que à beira mar na cidade
do Guarujá.
Já a conhecia, pois, a amizade com aqueles
amigos vinham de um bom tempo e alguns deles
tais quais Paulo, Alexandre e de seu irmão André
vinham de longos anos e ironicamente, André
mesmo sendo oito anos mais novo que seu irmão
era um dos quais mais tinha amizade.
Talvez até fosse porque trabalhassem juntos e
mesmo André sendo uma das pessoas que compunham
a sua equipe na multinacional em que trabalhavam
sempre fora aquele amigo que buscava nele se
espelhar e sem medo de perguntar fora aprendendo
e pegando experiência consigo.
- Tudo certo para amanhã chefe? Perguntou André
no final da tarde.
- Certo para que?
- Como para que?
- O que tem de especial amanhã?
- Como o que tem?
- Não estou sabendo de nada!
- Não está sabendo o que combinamos na semana
passada?
- Combinamos alguma coisa?
- Claro que sim!
- Não me lembro de ter combinado de nada com
você na semana passada a não ser que iremos
trabalhar no projeto que estamos para entregar à
diretoria.
- Não estou entendendo nada!
- O que não está entendendo meu pupilo?
- Combinamos que iríamos passar o final de
semana na casa dos pais da Iracy lá no Guarujá.
- Eu combinei isso com você? Não me recordo.
- Não está sabendo de nada? A Fernanda disse que
estava tudo certo e que você havia confirmado
que iria.
- Ah! A Fernanda que combinou então?
- Foi!
- E ela disse que eu havia concordado em ir
passar o final de semana prolongado com vocês lá
naquela bela casa dos pais da Iracy que fica lá
no Guarujá?
- Disse!
- Mas você ouviu eu dizer isso da minha boca em
algum momento?
- Não, mas achei que tinha concordado.
- E acreditou nas palavras da Fernanda?
- Sim!
- Acho que ela fala demais isso sim.
- Poxa! O pessoal irá ficar triste quando souber
que não irá.
- Que pessoal?
- Os nossos amigos.
- De quais amigos você está se referindo?
- Além da Fernanda, o
Alfredo, a Kelly,
eu, a
Iracy, o Alexandre, a Solange, o
Paulo e a
Patrícia.
- Todos eles confirmaram que irão?
- Sim e só marcamos de ir porque estamos
cansados de ver a sua cara tristonha de cachorro
carente.
- Cachorro carente? Achei que fosse um cachorro
que caiu da mudança.
- É sério que você não sabia de nada mesmo
chefe?
- Se eu não for vocês ficarão tristes?
- Com certeza! Já passou da hora de começar a
viver e deixar de lado isso de encontrar esta
mulher invisível.
- Caramba! Que foi que flou dela?
- Da mulher invisível e inexistente?
- É! Respondeu Rubens.
- A Fernanda que disse que já tentou de tudo com
você e você sempre diz que está à espera de um
milagre, ou seja, de algo que não existe.
- Bem! A espera de um milagre é nome de um filme
e ela é muito bocuda por ter comentado isso.
- Porque? Ela gosta de você, não percebeu?
- Na verdade, ela estava carente e eu apenas fui
seu amigo e você sabe bem disso.
- Porque não dá uns catas nela? Ela é uma moça
linda e bem jeitosa.
- Ei! Olha as palavras que está falando comigo
menino. Esqueceu que sou seu chefe?
- Era meu chefe até dez minutos atrás. Agora é
apenas o meu querido amigo Rubens ou não se deu
conta que terminamos o nosso horário de
trabalho?
- Ah é verdade, mas deixa eu lhe dizer uma
coisa. Também acho a Fernanda uma moça linda e
como você disse bem jeitosa ou gostosa como sei
que era o que quis dizer, mas somos amigos e eu
não a amo e se acontecesse algo mais íntimo eu a
faria infeliz e ficaria mais infeliz por saber
que a magoei. Entendeu?
- É uma pena, mas entendi isso e respeito o seu
ponto de vista, mas podia apenas dar uns pegas
nela, não é?
- Não! Não é! Respondeu Rubens sorrindo.
- Mas mudando de assunto o pessoal ficará triste
por você não ir ou não desejar estar conosco lá
na casa da praia.
- E quem te disse que eu não irei?
- Você disse isso!
- Nada disso! O que eu disse foi que não
combinei com você e não que disse para ela que
eu não iria.
- Está querendo travar meu chip é?
- Não, mas eu irei sim, afinal tenho que tentar
de alguma forma tirar esta cara de cachorro
carente que caiu da mudança do meu rosto, não é?
- Pior que é cara de cachorro vira latas, cheio
de carrapatos e desnutrido. Disse André rindo.
- Aí você pegou pesado, mas pelo que sei se
reunirão diante da porta da minha casa amanhã, é
isso mesmo?
- Isso e esta parte já é da parte do Alfredo que
te conhece bem e sabia que você poderia arrumar
uma desculpa para não ir.
- Sei disso! A fofoqueira me falou isso, mas
está tudo certo, amanhã estarei esperando vocês
na porta da minha casa para irmos tentar tirar a
cara de cachorro carente de meu rosto.
- Vai que de repente você encontre a mulher
invisível e inexistente lá na praia e se não
encontrar porque não dar uma chance para que a
Fernanda te ajude a mudar esta cara. Acho que
valeria a pena.
- Menos André, menos, mas vamos ver no que dará,
se bem que acho difícil encontrar uma mulher
invisível na praia dando mole.
- Não sei se a invisível lhe dará mole, mas sei
que uma mulher bem visível estará lá ao nosso
lado querendo e muito lhe dar mole, médio e
duro.
- Para de falar besteira e vamos embora e seja o
que Deus quiser amanhã, mas por favor, não force
tá!
- Jamais faria isso de forçar.
- Sei! Te conheço bem menino. Respondeu Rubens
sorrindo.
Saíram da empresa e cada qual tomou seu caminho
para as suas casas.
)
A noite chegou e estava quase dormindo quando
Fernanda ligou perguntando se ele não iria dar
mancada no dia seguinte e Rubens disse que não,
porque sabia que todos queriam pegar o cachorro
que caíra da mudança e cuidar dele. Desligou
logo sem dar atenção para o que ela iria dizer.
O dia clareou cedo na manhã seguinte e vendo o
jornal dizia que aquele seria um de sol
escaldante, porém, para o litoral havia previsão
de garoa no final da noite. Não se preocupou e
nem desistiu afinal devia isso aos seus amigos e
por um segundo passou por sua mente em tentar um
relacionamento com Fernanda mesmo sabendo que se
não desse certo a magoaria demais e isso era um
risco que não queria correr.
Aquele foi um dia atípico e mesmo tendo muitas
coisas para fazer na empresa resolveu não se
empenhar tanto e deu-se ao luxo que nunca lhe
permitirá ter de por volta das quinze horas
parar e ficar pensando no que faria naquele fim
de semana esticado e precisamente às dezessete
horas encerrou seus compromissos e sem dizer
nada retirou-se e foi para casa. Já havia
preparado e arrumado tudo para a viagem. Apenas
olharia se estava tudo em ordem e lá chegando
assim o fez.
Morava sozinho e por sua mente passou os
pensamentos de que aquilo de sonhar e esperar
pela mulher amada, mas inexistente e assim
pensando se deu conta de que a idade passava
rápido e queria ser feliz.
Não era velho, pelo contrário, estava apenas com
trinta e oito anos e acreditava que tinha ainda
muitos anos pela frente, mas estava cansado de
ficar sozinho. Sentia falta de uma pessoa na sua
vida para poder compartilhar os seus dias.
Já tivera dois curtos relacionamentos, porém,
sentia que aquelas duas jovens não era quem
buscava. Na verdade, a muitos anos idealizara
uma mulher que lhe desse amor, carinho, atenção,
afeto, que compartilhasse seus dias com os
mesmos ideais, que sonhasse junto com ele aquele
sonho de viverem felizes, terem ao menos um
casal de filhos, morarem na casinha com um
jardim florido diante dela e seus dois
relacionamentos queriam apenas ter uma vida
fútil e sexo que era algo que ele gostava, mas
se sentia infeliz apenas fazendo por fazer.
Queria mais e ainda não vira quem buscava.
Enfim, daria uma chance a si mesmo de tentar
encontrar a mulher de sua busca naquele final de
semana. Caso não a encontrasse tentaria com
Fernanda que sabia que estava lhe amando.
Pensava assim e nem viu que o pouco tempo que
tinha de espera por seus amigos passou rápido e
logo todos eles estavam ali diante da sua casa
para arrastá-lo se fosse necessário. Eram cinco
casais e mais Helena a irmã mais nova de
Fernanda que resolvera de última hora ir junto
com eles. A campainha tocou e ele foi atender
sabendo que era André quem apertara a mesma.
- Boa tarde chefe! Já está pronto?
- Já estou sim André! Todos chegaram?
- Todos sim! Passei na casa de Fernanda,
peguei-a e trouxe a irmã dela junto. Sabia que
Helena irá conosco?
- Sim! A Fernanda me avisou pelo aplicativo.
- Algum problema de ela ir junto?
- Porque teria algum problema?
- Sei lá! De repente você vai resolver dar uns
pegas na Fernanda e não fará por causa da irmã
dela estar junto lá.
- Para de dizer besteira e vamos resolver em
quantos carros iremos.
- Pensei em irmos em três carros apenas. Pode
ser?
- Vocês que resolvam, afinal sou apenas um
cachorro que caiu da mudança. Respondeu Rubens
sorrindo.
- Tudo bem!
Fizeram a distribuição e devido a insistência de
Rubens querer ir com o seu automóvel Alfredo,
Kelly e Fernanda foram com ele e Helena acabou
indo junto com André e Iracy. Ajeitaram as malas
dentro dos veículos e partiram rumo à bela casa
da família de Iracy no Guarujá.
A distância era pequena. Cerca de noventa
quilômetros os separavam o que daria para fazer
em uma hora e meia, porém, já na serra pegaram
uma forte garoa e agregado a isso um forte
congestionamento fez com que levassem mais do
que o dobro de tempo, mas apesar disso
finalmente chegaram ao destino e Rubens
estranhou por não ver lá no local os pais de
Iracy que preferiram não ir e passar o final de
semana na capital estando lá apenas as três
funcionárias que cuidavam da residência e que lá
moravam.
Estacionaram os três veículos nas vagas cobertas
e descarregando seus pertences cada qual se
distribuiu nos dormitórios que haviam lá e mesmo
Fernanda insinuando de que ela ficasse no mesmo
que Rubens ele preferiu que ela ficasse com a
sua irmã arrancando uma carinha de chateação
nela.
Depois disso foram comer algo, pois estavam
famintos e ficaram ainda um bom tempo jogando
conversa fora antes de dormir, mas em momento
algum sequer um tocou no assunto da mulher
inexistente de Rubens e menos ainda sobre o
cachorro desamparado e já estava avançada da
hora quando se retiraram para seus respectivos
dormitórios.
Rubens entrou no seu. Trancou a porta para
evitar que Fernanda resolvesse ir lá atiça-lo e
depois de se despir e ficar usando apenas uma
bermuda foi até a porta de vidro que havia do
outro lado da dependência e ficou ali olhando
para fora vendo a chuva engrossar e mesmo tendo
varanda daquele lado preferiu não sair para fora
e depois de ficar um bom tempo ali pensando
resolveu ir dormir constatando que ao contrário
do que dissera a reportagem sobre a previsão do
tempo teriam chuva no dia seguinte também.
)
Como previra a manhã clareou com a chuva ainda
mais forte do que fizera de madrugada. Foi para
a sala e lá encontrou apenas Alfredo e Kelly
acordados e comentaram sobre talvez passassem o
final de semana todo dentro de casa e riram da
situação.
Esperaram um pouco mais, mas tão breve André
levantou-se ele se encarregou de acordar a todos
para tomarem café e logo todos se reuniram na
cozinha onde as pessoas que lá trabalhavam
haviam preparado tudo para que eles se
alimentassem.
- Belo final de semana este heim! Comentou
Alexandre.
- Pois é! Acho que iremos passar ele todo
trancado aqui dentro. Falou Patrícia.
- Mas não mesmo! Pode fazer a chuva que for
porque se não formos para a praia vou nadar na
piscina de qualquer forma. Rebateu Helena
sorrindo.
- Verdade! Já que estamos ao lado da praia e se
não pudermos ir lá podemos usar a piscina. Falou
Kelly.
- Nesta chuva? Perguntou Rubens.
- Porque não? Temos água sem areia, sem risco de
sermos devorados por algum tubarão faminto e bem
pertinho de tomarmos depois da piscina um banho
quente e nos trocarmos com roupas secas e
reconfortantes. Disse Paulo sorrindo.
- Tubarão? No Guarujá não tem tubarão. Falou
Iracy.
- Não tem, mas vá que algum deles resolva vir
para cá pescar pessoas que gostem de entrar na
água da praia com esta chuva toda. Respondeu
Paulo sorrindo.
- Quem vai encarar a piscina? Perguntou Helena
saindo para colocar um biquíni.
Com a inclusão de André e Paulo todas as garotas
entraram para trocarem de roupa voltando logo
depois todas trajando minúsculos biquínis e os
dois usando apenas sunga e foram direto para a
piscina sob os olhares dos demais e Rubens não
deixou de reparar na forma física de Fernanda
que jamais vira antes.
- Que foi irmão! Mudou de ideia sobre ela agora
que a viu com esta roupa? Perguntou Alfredo.
- Que roupa? Perguntou Rubens sorrindo.
- É verdade! Quase que nada de roupa né?
- Pois é! Acho que estou passado porque fazia
tempo que não via jovens bem à vontade desta
forma.
- Pode olhar à vontade, mas não fique muito de
olho na minha namorada tá! Falou Alexandre
sorrindo.
- Nem da minha heim! Completou Alfredo também
sorrindo.
- Podem ficar tranquilo porque não farei isso!
Respondeu Rubens rindo também.
- Mas cá para nós! A Fernanda e a irmã dela têm
um corpo de fazer inveja e não sei porque você
não tenta algo com ela, pois sei que ela está
apaixonada por você. Disse Alfredo.
- Não quero envolver e prejudicar a amizade que
tenho com ela.
- Ora! Tente ao menos dar umas pegadas e quem
sabe tire este atraso que sei que está
castigando a você mesmo. Comentou Paulo.
- É complicado! Imagine que eu faça isso e role
cama, sexo, beijos, amassos, abraços e não dê
certo. Isso irá estragar a amizade que tenho com
ela e ficaremos mal.
- Então dê uns catas na irmã dela e pronto!
Frisou Alfredo sorrindo.
- Pior ainda!
- Vai ficar até quando esperando a sua mulher
invisível irmão? Ela poderá jamais aparecer e
irá perder a chance de tirar o atraso. Disse
Paulo sorrindo.
- Vou esperar até amanhã e se nada acontecer vou
fazer o que estão dizendo e tentar um
relacionamento com a Fernanda e seja o que Deus
quiser.
- Agora sim está pensando direito! Tente e veja
o que dá, afinal, ela está aqui, a disposição e
sabemos que ela está apaixonada por você.
Comentou Alfredo.
- Farei isso! Respondeu Rubens convidando os
dois para irem para a varanda vê-las.
Saíram e se ajeitaram nas cadeiras à beira da
piscina, porém, na área coberta e ficaram vendo
os demais se divertindo dentro da água como se
fosse um lindo dia de sol e prestando atenção
mais detalhada neles se deu conta de que seus
olhos não desviavam de Fernanda que olhava
direto para ele sorrindo e convidando-o para
entrar na água e tanto insistiu que ele acabou
entrando um pouco e se devagar foi se soltando,
mas sendo comedido nas suas atitudes e saíram de
lá pouco antes da hora do almoço.
Finalmente saíram da piscina e cada qual foi
para onde estavam hospedados e lá, depois de
tomarem banho e se trocarem voltaram para a sala
e depois foram almoçar. Olhando para fora viam
que a chuva aumentava cada vez mais e o que
restou para eles fazerem foi ficarem trancados
dentro da residência o restante da tarde até a
noite.
- Vai continuar esperando a sua musa inexistente
querido? Perguntou Fernanda.
- Pensando sobre isso!
- Pensando o que, posso saber?
- Sobre o que acabou de dizer!
- Na musa inexistente?
- É!
- Hum! É mesmo?
- É sim!
- Tem medo de tentar algo comigo e se não der
certo me deixar magoada, acabada, abandonada,
deprimida, desfacelada, quebrada, morta por
dentro?
- Você disse tudo! Isso mesmo. Esqueceu que te
conheci assim?
- Não e lhe sou grata por ter me ajudado a
esquecer aquele infeliz.
- Pois é! Não quero que se machuque outra vez.
- Não pense! Apenas faça e pronto. Vou correr o
risco e se não der certo continuaremos sendo
amigos, não é?
- Aí que está! Se tentarmos, correndo o risco e
não dando certo sei que tudo mudará.
- Caramba! Como você e chato. Eu que estou
querendo, portanto, não pense, apenas haja e me
tome para você.
- Está abusadinha heim! Falou Rubens sorrindo.
- Não viu nada ainda! Tente e vamos ver o que
vai dar.
- Posso te pedir um favor de um amigo para uma
amiga?
- Peça!
- Me dê até amanhã e se nada acontecer prometo
para você que tentarei um relacionamento com
você. Pode ser?
- Tudo bem, mas duvido que a sua musa irá
aparecer aqui nesta casa de madrugada debaixo
desta chuva toda, mas tudo bem. Se nada
acontecer vou te atacar amanhã logo cedo.
Respondeu Fernanda.
- Obrigado! Você é uma pessoa maravilhosa.
- Claro que sou e só você que não viu isso
ainda! Disse Fernanda sorrindo.
- Vamos dormir então?
- No meu quarto ou no seu?
- Eu disse irmos dormir, mas não juntos ainda.
- Cara mais chato, mas tem até amanhã então e
vou torcer para que ninguém bata aí na porta de
madrugada. Boa noite! Disse Fernanda se
despedindo e lhe dando um selinho.
Todos se retiraram e Rubens ficou ali parado
sozinho na sala olhando para aquela forte chuva
que estava caindo e pensando nas palavras de
Fernanda sobre alguém bater na porta de
madrugada debaixo daquela chuva toda e acabou
sorrindo apenas por supor aquela chance em um
bilhão de alternativas.
)
Ficou ali na porta de vidro da sala olhando para
fora e a chuva não parava de forma alguma.
Resolveu ir se deitar e até deitou, mas depois
de virar de um lado para o outro na cama viu que
não iria conseguir dormir. Ligou a TV, mas nada
encontrou que distraísse sua atenção apesar das
centenas de canais que havia ali na TV a cabo.
Resolveu se levantar e foi até a porta que
divisava com o pátio externo onde ficava a
piscina e viu que a chuva estava diminuindo e a
tempestade logo se transformou em garoa e a
garoa finalmente como que por milagre parou.
Resolveu sair.
Trocou de roupa. Colocou uma camiseta e uma
bermuda. Sentiu-se bem e olhando para o celular
viu que não era nem onze da noite ainda. Saiu
para a varanda e olhou para o céu. A chuva
milagrosamente parara de vez. Voltou para dentro
do quarto, fechou a porta de vidro e logo depois
foi para a sala e pegando uma chave reserva do
portão saiu a pé. Ia caminhar um pouco à beira
mar. Pisar na areia e pensar bem no que estava
para fazer com Fernanda.
Abriu o portão, saiu e o fechou. Estava a uma
quadra da avenida marechal Deodoro da Fonseca.
Sequer viu qualquer pessoa na rua, nem na
avenida e tirando o tênis caminhou para a areia
da praia que estava completamente vazia.
Foi até onde a água do mar chegava e resolveu
caminhar pisando dentro dela e sorriu ao se
lembrar do tubarão chegando até ali. Olhou de um
lado e depois para o outro e não havia nada e
nem ninguém. Olhou para o mar que ironicamente
estava calmo mesmo depois daquela imensa
tempestade que caíra até pouco tempo atrás.
Caminhou um pouco e percebeu que dava para
acessar a ilha da Pompeba e sem saber porque,
como se uma força poderosa o fizesse ir até ela
foi caminhando e nem se importou de que a água
cobriu sua perna passando do joelho chegando
depois até sua cintura e alcançou as pedras da
ilha e vestiu o tênis novamente.
Sem saber porque caminhou pela extensão da ilha
e foi até a ponta da mesma e lá sentou-se sobre
uma rocha e ficou admirando o mar aberto e
pensando que logo cedo iria desistir de seu
sonho com a mulher inexistente e se entregar ao
relacionamento com Fernanda e tentar ser feliz.
Não soube precisar quanto tempo ficou ali, mas
assim que percebeu que a maré começava a subir
resolveu ir embora. Levantou-se e se virou para
voltar quando viu algo brilhando sobressaindo-se
das rochas que compunham aquele pequeno paraíso.
Abaixou-se e viu que era uma garrafa e
tateando-a constatou que ela estava vedada com
uma rolha e parecia que dentro dela havia algo
ou o tipo de um papel.
Não abriu a garrafa, pois sabia que se demorasse
muito ali a maré iria subir e seria impossível
ele voltar caminhando. Desceu das pedras e como
imaginava a água já havia subido mais e chegava
naquele momento até o seu peito. Caminhou com
certa dificuldade, mas logo estava na areia e
olhou com curiosidade para aquela garrafa que
parecia ter muitos anos. Caminhou mais e
finalmente chegou na areia e foi em direção à
avenida e lá, finalmente sob a luz de um poste
constatou que de fato era um papel dentro
daquela garrafa que mais parecia ter sido de
alguma bebida, porém, de muitos anos atrás.
Estava ensopado por conta da água do mar e sem
se incomodar sentou-se em um dos bancos da beira
mar e tentou tirar a rolha que a vedava, porém,
sem conseguir fazer. Ergueu então a garrafa em
direção à luz artificial e viu que o papel
dentro dela parecia ser uma carta ou coisa do
tipo e ficou ainda mais curioso. Olhou para a
praia onde se abria o imenso oceano Atlântico e
riu pensando que saíra para distrair a cabeça e
pensar sobre o que faria com Fernanda logo pela
manhã e ao contrário de encontrar a mulher
invisível encontrara uma garrafa de vidro quem
sabe com o endereço dela.
Assim pensando sorriu e resolveu voltar para a
casa onde estava hospedado. Caminhou um pouco e
mal chegara no meio da quadra a chuva voltou a
cair e a tempestade voltou a desabar assim que
cruzou o portão da residência.
Entrou rapidamente e foi até seu automóvel e
acessou a caixa de ferramentas que tinha no
porta malas dele e pegando um alicate que ali
havia com cuidado foi soltando a rolha prensada
dentro da boca da garrafa como se tivesse sido
colocada ali com alguma máquina de alta
precisão. Finalmente conseguiu soltar a rolha e
retirou o papel de dentro da mesma e constatou
que de fato era uma carta escrita com uma
delicada letra feminina. Curioso começou a
lê-la.
“Não sei onde você está e nem sei porque você
desapareceu me deixando aqui sozinha depois de
nossas juras de amor. Sabia que te amava quando
aqui estava, mas descobri que te amo muito mais
depois que sumiu de meu olhar. Te amo e
desesperadamente eu espero pelo seu retorno e
sem saber se algum dia voltará para mim resolvi
escrever esta carta, coloca-la dentro de uma
garrafa e jogá-la ao mar, pois quem sabe, se ela
te encontrar quem sabe volte e me faça ser feliz
ao lado dos dois filhos que teremos morando na
casinha que sonhamos juntos com um jardim
florido diante dela. Te amo muito e temo morrer
antes que volte para juntos vivermos nosso
grande amor. Onde você está amor da minha vida?
Volte que estou te esperando como esperamos o
dia amanhecer para vermos o sol raiar no céu.
Volte porque preciso de você. Da sua amada que
jamais lhe esquecerá. Larissa. São precisamente
2:27 da madrugada do dia 13/07/1723”.
Rubens leu e releu aquela carta várias vezes e
nela havia o nome da mulher que a escrevera.
Larissa era seu nome e o curioso era que a data
inserida na carta era do dia treze de outubro,
porém, o ano é que era inimaginável. Era no ano
de mil setecentos e vinte e três a exatos
trezentos anos no passado.
- Que loucura é esta? Devo estar ficando maluco.
Encontrei uma garrafa com uma carta dentro de
uma pessoa chamada Larissa que curiosamente é da
mesma data em que estava, porém a trezentos anos
no passado. Devo estar enlouquecendo. Pensou
Rubens atônito.
Não tinha noção da hora que era aquele momento,
mas entrou e mesmo sabendo que ia molhar toda o
caminho que faria praticamente correu para saber
que horas eram e ficou ainda mais assombrado
porque o imenso relógio cuco que havia na sala
marcava exatamente duas e vinte e três horas da
madrugada.
Sentiu vontade de acordar todo mundo para
mostrar aquele absurdo de ocorrido, porém,
correu para seu quarto, pegou seu celular que
havia deixado lá e voltou para a sala e ficando
diante do relógio cuco fez uma selfie e
curiosamente assim que viu a foto no celular
reparou que parecia que o relógio não andara
sequer um segundo, pois a sua foto ao lado do
relógio estava exatamente no mesmo horário da
carta recebida dentro de uma garrafa.
Voltou para seu quarto e foi tomar um banho
morno e tentou dormir depois de estar asseado,
seco e vestido de novo, mas não conseguiu. Pegou
a carta. Leu e releu-a várias vezes novamente.
Não via a hora dos demais acordarem e por um
instante pensou em Fernanda e de como ela
ficaria decepcionada e chateada com o que
saberia quando o ouvisse. Aguardou e parecia que
as horas não passavam de forma alguma até que
finalmente ouviu vozes e se levantou.
Trocou-se e olhando pela porta de vidro
constatou que a chuva caía implacavelmente lá
fora. Saiu do quarto e foi para a sala e viu que
quem havia acordado eram as moças que
trabalhavam na casa e uma delas estava enxugando
a molhadeira que ele causara e por sorte o piso
de toda a residência era em piso frio.
- Me perdoe! Eu resolvi sair ontem de noite e
quando voltei estava com tanta pressa que nem vi
o que fiz.
- O senhor saiu de noite com aquela chuva?
Perguntou Janice.
- Me dê o rodo e o pano que vou enxugar!
- Mas nunca! Ganho para isso.
- Não mesmo! Eu sujei, portanto, tenho que
limpar.
- Se o senhor limpar eu perco meu emprego.
Respondeu Janice sorrindo.
- Mas faço questão de limpar!
- Nem ouse porque senão eu ficarei chateada. Vá
tomar café senhor.
- Alguém já acordou?
- Ninguém ainda.
- Tudo bem! Obrigado e mais uma vez me perdoe
por ter molhado tudo por aqui.
- Fique tranquilo. Respondeu Janice saindo para
limpar a varanda.
Rubens estava ansioso para mostrar a todos a
garrafa e a carta que encontrara e que carregava
nas suas mãos com carinho e para conter a sua
impaciência foi até o relógio que tirara a foto
diante dele de madrugada e nele marcava seis e
vinte e quatro da manhã.
Voltou e foi até a porta envidraçada de entrada
e lá fora a chuva não cessava e pelo que sentia
não ia passar rápido e com isso, só haveria duas
alternativas, ou ficavam trancados dentro da
casa ou voltavam para a capital e isso
resolveriam assim que todos estivessem
acordados.
Demorou o que pareceu uma eternidade, mas seus
amigos foram chegando e ele após cumprimenta-los
aguardou que todos estivessem presentes para
tocar no assunto, porém, aguardou tomarem café e
chamou-os na sala para dizer tudo o que
acontecera naquela noite anormal.
- Não creio que aconteceu isso tudo! Comentou
Alfredo.
- Foi sim e a prova está aqui em minhas mãos.
- Uma garrafa com uma carta dentro dela, é isso
mesmo que está dizendo? Perguntou André.
- É! Exatamente isso.
- Você saiu mesmo na chuva esta noite? Perguntou
Fernanda indignada.
- Saí!
- Não creio que fez isso comigo?
- Não fiz nada Fernanda! Apenas sai para
refletir.
- Mas saiu debaixo de chuva? Tornou a comentar
Fernanda.
- Saí na hora que parou a chuva.
- Mas a chuva parou? Pelo que vejo ela está
ainda mais forte que estava ontem de noite.
Disse Paulo.
- Pode parecer inacreditável, mas a prova disso
está aqui.
- Parece uma garrafa de rum daquelas dos velhos
piratas lá do Caribe. Comentou Alexandre.
- O papel da carta também é bem antigo pelo que
estou vendo! Falou Kelly.
- Iracy! Me diga uma coisa, este relógio lá da
sala está com a sua família a muito tempo?
- Não sei dizer, porque ela já estava em casa
antes de eu nascer. Porque?
- Porque ele é bem antigo e isso dá para se ver.
Hiper conservado, mas bem antigo.
- Acho que ele deve estar na família a muitos
anos porque tinha uma foto de meu avô ainda
novinho ao lado dele.
- Seus pais saberiam dizer de quando ele seria?
- A data não sei, mas garanto que meu pai sabe
bem mais que eu, porque?
Rubens detalhou ainda mais o que acontecera e
também o como e onde encontrara aquela garrafa
deixando todos cismados, porque ir a pé até a
ilha da Pompeba era quase que impossível ainda
mais na chuva que estava caindo, mas mesmo em
tese duvidando todos entendiam que não era
apenas um sonho e sim realidade. Havia uma
garrafa e uma carta para provar isso e a mesma
hora assinalada no velho relógio cuco.
Fernanda vendo a empolgação de Rubens ficava
cada vez mais chateada. Ele nunca dissera que o
amava e sabia que ele tinha carinho por ela, mas
não amor, porém, com o decorrer do tempo que o
conhecera ele não fizera apenas ela esquecer seu
ex e sim, mesmo ele sempre dizendo que era seu
amigo, ela acabara se apaixonando por aquele
homem que sonhava com uma mulher sabe-se lá de
onde.
Rubens estava ainda mais ansioso e queria voltar
para a capital para conversar com os pais de
Iracy, pois queria a todo custo saber mais sobre
aquele velho relógio e torcia para que ele não
fosse apenas uma herança de família, pois se não
fosse tentaria compra-lo e tentar ver se ele
tinha algo a ver com a mulher misteriosa.
- Podemos voltar para São Paulo? Perguntou de
repente.
- Voltar! Exclamaram todos.
- É! Pelo que sabemos a chuva não irá parar e se
ficarmos aqui será para curtirmos apenas a casa,
iremos no máximo para dentro da piscina.
- É! Pode até ser, mas você foi até a praia, não
foi? Perguntou Fernanda bem contrariada.
- Fui porque parou de chover e tinha que pensar.
- Pensar no que? Tornou a perguntar Fernanda
agora irritada.
- No que você me disse ontem à noite.
- O que foi que eu disse?
- Sobre eu acreditar que alguém bateria na porta
aqui debaixo daquela chuva.
- Alguém bateu na porta de madrugada por acaso?
- Não, mas como parou de chover saí para
refletir melhor se deveria ou não acabar te
magoando.
- Não deve ter pensado direito, porque me deixou
magoada. Respondeu Fernanda se levantando e
saindo da sala chorando.
- Eu temia por isso e juro que não queria isso!
- Sabemos bem que você queria poupá-la e ela
também sabia disso, mas estar apaixonada por
alguém e receber uma notícia desta que deu a
magoou, mas sei que irá passar e ela também sabe
porque a chance de você encontrar com uma mulher
que mandou uma cara a trezentos anos atrás é ou
seria mais impossível do que pegar uma estrela
no céu. Disse filosoficamente Helena.
- Tomara que você esteja certa e ela me perdoe
por isso. Falou Rubens entristecido.
- Ela não irá te perdoar, mas esperará você
desistir deste sonho impossível. Falou Helena.
- Bem! O que faremos, ficaremos ou voltaremos
para a capital?
- Ficaremos e você também! Respondeu André
tomando à frente de todos.
- Tudo bem! Ficaremos, mas tenho pressa em falar
com os pais de Iracy. Falou Rubens.
Ficaram e Fernanda sequer se aproximou de Rubens
nos outros dois dias e na volta não quis voltar
no mesmo carro que ele. No fundo ela sabia que
ele iria desistir daquele sonho impossível, pois
por mais que parecesse fácil era algo que jamais
aconteceria dele encontrar a mulher da carta e
ela esperaria o que fosse necessário e no
domingo, logo após almoçarem retornaram para a
capital e Rubens fez questão de ir direto até a
casa de Iracy tentar saber mais dos pais dela
com relação ao velho relógio.
)
Saíram do litoral e a chuva os acompanhou até
metade do caminho, mas curiosamente ao chegarem
no platô em São Bernardo do Campo nem uma gota
de água caíra naqueles quatro dias e sem querer
pensar todos eles foram direto até onde Iracy
morava com seus país.
- Papai! Você conhece o Rubens, não é?
- Claro que conheço! É o jovem da mulher
invisível, não é?
- Eu mesmo!
- Já desistiu de encontrá-la?
- De forma alguma e tenho uma pista sobre ela.
- Não creio que sabe onde ela esteja! Comentou
Carla, mãe de Iracy.
- Quase isso! Respondeu Rubens contando tudo o
que acontecera.
- Estou impressionado! Disse Jurandir.
- Vim aqui e lhe peço desculpas por isso, mas
queria saber mais sobre o relógio cuco que tem
lá na casa do Guarujá.
- O que tem ele?
- O senhor viu direito a carta?
- Vi sim, mas não entendi!
- O senhor viu a foto que tirei junto do seu
relógio?
- Vi, mas continuo não entendendo.
- O senhor viu a data na carta?
- Vi sim! Datava de treze de outubro.
- Que mais?
- Olhe de novo por favor.
Entregou a carta novamente para Jurandir e
depois mostrou a foto do relógio em seu celular
e foi aí que os pais de Iracy entenderam e
ficaram de queixo caído.
- A carta marca o mesmo dia a trezentos anos
atrás e o velho cuco marca o mesmo horário
mencionado na mensagem. Falou Jurandir pasmo.
- Isso mesmo! Dia, mês e hora, trezentos anos
depois. Sabe qual é o tempo que tem este
relógio?
- Não sei lhe dizer isso.
- Eu dei uma
pesquisada e pelo que li na internet o primeiro
relógio cuco foi fabricado
por
Franz Anton Ketterer, um relojoeiro da cidade
Shoenwald na Floresta Negra, na Alemanha e
segundo consta ele teria sido o primeiro a
fabricar este tipo de relógio.
- Não sabia disso, o que tem isso a ver com a
moça?
- Também não sei que ligação poderia ter, mas
veja bem, eu fui até a praia em uma noite em que
a tempestade deu uma pequena trégua e de lá algo
me empurrou em direção à ilha da Pompeba onde
atravessei o espaço andando, lá encontrei a
garrafa com a carta, voltei, a chuva voltou a
cair, peguei um alicate dentro do porta malas do
meu carro, abri, li a carta e entrando o relógio
marcava a mesma hora destacada na carta. Tem que
ter uma ligação entre a carta e o relógio, não
acha?
- É! Tem razão. Deve haver alguma ligação mesmo,
mas o que quer me dizer com isso?
- Primeiro quero saber se este relógio é herança
de família.
- Não! Ele não é herança a não ser que me foi
deixado de meu pai que o guardava em um canto no
depósito e sei que ele foi recebido de presente
de um amigo de meu avô que queria se livrar dele
por estar ocupando espaço.
- Tem algum apego por ele?
- Eu não, tanto que tiramos aquele relógio velho
e barulhento daqui e levamos lá para a casa na
praia e mais, se dependesse da minha esposa
teríamos jogado ele no lixo.
- Que bom que não jogou!
- É! Acho que ele estava lhe esperando. Falou
Carla emocionadamente.
- Quanto quer por ele?
- Você quer comprar o velho relógio que íamos
jogar fora? Perguntou Jurandir.
- Quero!
- Hum! Tem certeza que quer comprar aquele
barulhento que para nós não vale nada?
- Tenho sim!
- Por quanto acha que deveríamos vender o velho
relógio querida? Perguntou Jurandir para Carla.
- Que tal um dólar?
- Acho que está maluca pedindo isso?
- Porque? Para nós ele é apenas uma porcaria
velha.
- Porque eu pensei em dar para ele de graça, mas
terá que ir buscar lá no Guarujá, porque não
quero que coloquem a mão na velharia.
- Eu estou falando sério! Quero compra-lo mesmo.
Me diga quanto, por favor.
- Bem! Eu ia lhe dar de graça e Carla sugeriu um
dólar, portanto, se insiste em compra-lo quero
um dólar nele, mas ressalto que terá que ir
busca-lo.
- Está falando sério?
- Claro que sim e se ele não foi para o lixo até
hoje apesar de que Carla tenha insistido para
isso e eu tê-lo levado lá para a praia deve ter
sido porque você algum dia iria encontra-lo e
ele lhe ser útil para não sei o que, mas o dólar
tem que ser dado agora e não depois. Falou
Jurandir sorrindo.
- Pode ser dez dólares?
- Não! Tem que ser um dólar e nada mais que
isso.
- Eu tenho cinqüenta dólares, mas em nota de dez
dólares cada uma das notas.
- Então não temos negócio! Ou é um dólar ou não
tem negócio.
- Então não poderei compra-lo se quer apenas um
dólar agora.
- Então sinto muito! Respondeu Jurandir doido de
vontade de sorrir.
- Espere um momento! Quer apenas um dólar por
aquele belo relógio? Perguntou Fernanda.
- Sim! Se tiver um dólar aí ele será seu.
- Eu tenho sim uma nota de um dólar! Faça o
recibo para mim por favor, que irei compra-lo.
Disse Fernanda de cara fechada.
- Recibo para um relógio velho? Perguntou
Jurandir.
- Sim! Por favor, faça o recibo que aqui está a
nota de um dólar.
- Mas não precisa! Pode ir lá retirá-lo. Falou
Carla entrando na conversa.
- Por favor, pode me fazer o recibo?
- Tudo bem! Farei o que me pede. Respondeu
Jurandir sério fazendo e entregando.
- Posso receber o dólar Fernanda? Perguntou
Carla entendendo Jurandir.
- Claro que pode! Aqui está.
Fernanda pegou o recibo e pediu uma folha de
papel e virando de lado começou a escrever e
perguntou o nome completo de Rubens e o número
de seus documentos. Este lhe passou não
entendendo nada, aliás ninguém entendeu nada e
tinham certeza de que ela iria comprar para dar
fim no relógio, mas a surpresa veio em seguida.
- Aqui está a doação do relógio para você Rubens
e espero que isso prove o sentimento e a
gratidão que tenho por ti, mas saiba que, eu
ainda não desisti de ti, entendeu?
- Como está me doando?
- Eu conversei discretamente com Carla sobre o
seu interesse no relógio e eles iriam te dar o
mesmo de presente, mas como sabiam do seu
caráter acreditavam que não iria aceitar, daí,
resolvemos ajudar na sua busca, porque mesmo eu
te amando, jamais poderia impedir que ao menos
tentasse encontrar esta mulher com a qual sempre
sonhou, mas já aviso que, eu apesar de saber que
é uma loucura isso, estarei aqui a sua espera se
não der certo a sua tentativa. Fui clara?
- Nem sei o que dizer para vocês, mas muito
obrigado por isso e saiba que nunca iria querer
magoá-la.
- Sei que não, mas agora providencie tudo e vá
buscar o presente lá no Guarujá amanhã sem
falta. Respondeu Fernanda com lágrimas nos
olhos.
- Amanhã! Que nada, vou busca-lo agora mesmo.
- E vai transportá-lo de que forma? Perguntou
Jurandir sorrindo.
- Só baixar os bancos de minha SUV que ele
caberá lá perfeitamente.
- Posso ir com você até lá? Perguntou Fernanda.
- Você não! Vamos nós todos lá para baixo de
novo buscar está peça de museu que devia estar
esperando por ele a vários anos. Disse Alfredo
convencendo a todos a irem juntos.
Não esperaram mais tempo e desta vez Jurandir e
Carla fizeram questão de irem juntos, afinal
queriam ver se cara a cara o novo proprietário
do velho relógio alguma outra coisa se revelaria
e saindo voltaram para o litoral.
)
Os veículos saíram e Rubens nem se deu conta de
que Jurandir colocara rapidamente uma enorme
caixa e cordas dentro da caminhoneta para depois
acompanha-los. Tinha pressa. Queria saber sobre
aquela coincidência que surgira após ter
encontrado aquela garrafa com uma carta dentro.
Ruas e avenidas foram cruzadas e depois de um
tempo limpo como a alma de uma criança recém
nascida chegaram à rodovia dos Imigrantes que
inexplicavelmente estava praticamente vazia. Os
quatro veículos se colocaram em fila estando
Rubens acompanhado de Fernanda no primeiro e por
último Jurandir acompanhado de Carla e ao
chegarem no meio da serra o tempo fechou e a
forte chuva voltou a cair, mas isso não
incomodou de forma alguma o desejo de chegarem
do local onde estava o velho relógio
aguardando-os.
Chegaram ao pé da serra e a chuva não dava
descanso. Pelo contrário parecia que o dilúvio
havia chegado por ali. Pegaram a BR-101,
passaram por Cubatão e depois acessaram a
rodovia Cônego Domênico, a Piaçaguera-Guarujá,
cruzaram a Avenida Leomil e finalmente chegaram
à cidade de seus destinos. Rubens estacionou o
veículo diante da propriedade e esperou que
Jurandir acionasse o controle remoto do portão e
todos entraram e estacionaram os veículos que
conduziam. Rubens estava com pressa, mas jamais
entraria na casa alheia sem autorização do
proprietário e este entrando chamou-os todos
para dentro.
Lá fora a chuva continuava castigando o solo,
mas Rubens só tinha olhos para o velho relógio
que estava diante de si e que agora era seu por
uma nota de um dólar. Parou e ficou olhando-o
tentando ver algo que não estava visível. Todos
ficaram em silencio respeitando a sua ansiedade.
Abriu a bela porta de vidro que havia na frente
dele e imaginou que ela poderia ser uma porta
para transportá-lo para o passado, mas nada
tinha a ver uma coisa com outra.
- Ele é meu mesmo? Perguntou agoniado.
- Tem com você o recibo e a doação que diz que
é! Respondeu Fernanda.
- Posso levar ele para a minha casa?
- Por mim pode sem problemas! Respondeu
Jurandir.
- Nem sei o que dizer!
- Não diga nada! Vamos ajuda-lo a carrega-lo,
vamos colocar ele na caminhoneta dentro da caixa
que eu trouxe, embalá-lo com lona para que não
molhe, amarrá-lo e entrega-lo lá na sua casa na
sua presença, mas vai prometer que irá nos
contar o que descobrir dele e esta é a única
condição que lhe peço. Disse Jurandir.
- Prometo que farei isso! Podemos embalá-lo
agora? Tenho pressa em vê-lo lá em casa.
- Por mim sem problema algum! Vocês podem ajudar
a embalá-lo? Falou Jurandir.
Todos se prontificaram a ajudar a embalar aquele
velho e enorme relógio cuco o qual poderia ter
uma explicação para as interrogações que o
ligavam àquela garrafa e a carta guardada por
trezentos anos dentro dela.
Devidamente embalado com muito cuidado o
ajustaram à caminhoneta, protegeram a embalagem
com uma lona e depois com mais cuidado ainda
amarraram a valiosa carga deixando-a pronta para
viajar os quase cem quilômetros de volta para a
capital onde ele permaneceria aos cuidados do
novo proprietário.
- Bem! A chuva está muito forte e nem vou
sugerir e sim pedir que comamos alguma coisa
para esperar a água baixar um pouco. Pediu
Carla.
- Concordamos! Responderam todos.
) |